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Há cem anos as mulheres podiam não saber escrever, mas sabiam bordar.


Carla Pereira Silva
Carla Pereira Silva

Em 1925, Laura fez um vestido de bebé com rendas e cambraia bordada. Em 1959, Sofia bordou a branco um tecido de algodão para compor o enxoval da sua filha. Em 1931, as tias de Maria das Dores ofereceram-lhe um robe de seda bordado a matiz. Em 1937, Leopoldina fez para o seu enxoval um par de calças interiores em algodão branco,bordadas a canotilho em verde e rosa.


Algures nos anos 50, Maria Celeste fez um álbum de lavores no curso do magistério primário. Também se encontrou uma combinação - essa peça de roupa tão delicada - em cetim de seda azul e com flores bordadas em cor-de-rosa.


Se as mulheres não sabiam escrever, como é que comunicavam em silêncio? Com objetos: fotografias, postais, medalhas, brincos, recortes de revista, estojos de costura, prendas e… bordados. Estes objetos, que podem parecer pobres e inúteis e que tantas vezes se perdem no momento de dividir heranças, são por vezes a única ponte para o passado.


O que é que as recordações das pessoas que já partiram - o que escolheram guardar, esconder, criar ou oferecer - dizem sobre elas?


O trabalho manual, cuidado e minucioso, carregado de afeto e imaginação, é abundante e revelador: é um idioma próprio, uma mensagem, um recado, uma promessa, um desabafo - o que se quiser.


Como é que se escreve uma carta quando não se sabe escrever? É assim.

E tu, vais bordar o quê em 2022?


(Em 1911 cerca de 80% das mulheres portuguesas eram analfabetas; em 1950, cerca de metade.)


Fonte: As Pequenas Coisas - Recordações de Mulheres: 1910-1950, de Maria José Moutinho Santos e Maria Fernanda Santos





CRUZA

Estudo e divulgação da tradição têxtil portuguesa

Por Carla Pereira Silva


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