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Da antiguidade à contemporaneidade: uma breve história do bordado


Luísa Leão

Como sabemos, o bordado é tradicionalmente uma arte de preenchimento de desenhos em tecido através das linhas e com auxílio de uma agulha. Atualmente, essa definição não

abrange tudo que o bordado pode ser e significar, até porque ele acompanhou diversos períodos históricos e se ressignifica de acordo com as sociedades onde está inserido.

Os primeiros indícios arqueológicos relacionados à técnica apontam para o Período Neolítico, momento no qual o ser humano descobriu que, o mesmo fio que era usado para unir

peles e criar vestimentas, também poderia ser utilizado com fins decorativos sobre estas mesmas superfícies têxteis. No Mundo Antigo e Medieval, os objetos bordados eram muitas vezes considerados sagrados, e o conhecimento da técnica era transmitido através das gerações. Até então, os significados atribuídos aos bordados eram simbólicos, espirituais e familiares.

A partir do século XIII, dois foram os principais fatores que proporcionaram uma abordagem socioeconômica do bordado: a invenção da agulha em aço e o refinamento da seda na Europa Bizantina. Foi assim que o bordado artesanal alcançou seu ápice em termos de mercado e passou a ser uma profissão reconhecida e valorizada, que exigia escolas de ofício para que fosse exercida.

Entretanto, estamos a falar de um momento histórico no qual não se aceitava que a mulher pudesse obter uma fonte de renda, pois o homem deveria ser o único provedor do lar de acordo com os valores da época. Sendo assim, a profissão de ‘bordador’ surgiu pela necessidade de decorar as vestes da nobreza e do clero com materiais luxuosos como fios de ouro e pedras preciosas, sendo um trabalho ostentatório. Nessa época, as mulheres das altas classes deveriam saber bordar como símbolo de moralidade, mas esse trabalho era privado e reservado aos têxteis-lar, sem nenhuma relevância económica.

Com o advento da 1ª Revolução Industrial, o bordado — assim como várias técnicas artesanais — foi desvalorizado. A produção rápida e massificada, unida aos novos mecanismos de publicidade, fizeram com que o modelo de produção artesanal fosse visto como inadequado às necessidades do público consumidor, culminando numa falta de interesse pelo fazer à mão nas gerações pós-industriais. Nesse processo, muitas técnicas foram perdidas, e o bordado se manteve presente em alguns contextos por uma ideia de que ele reafirmava uma certa natureza feminina.

Atualmente vemos técnicas artesanais como o bordado serem cada vez mais difundidas e revalorizadas. Esse processo ocorre devido a uma necessidade crescente da sociedade em resgatar os valores manuais e consequentemente a sustentabilidade que foi perdida com os processos de industrialização. Além disso, a hegemonia dos produtos industriais deixa aos poucos de fazer sentido, momento no qual a qualidade e originalidade dos objetos artesanais começam a ser procuradas por um grupo cada vez maior de pessoas.

Outro valor resgatado pela revalorização do bordado é de caracter feminino e feminista.

Durante seu percurso histórico, o bordado constituiu uma ferramenta de aprisionamento feminino, onde as mulheres eram muitas vezes obrigadas a bordar e não possuíam reconhecimento artístico, profissional e financeiro através da técnica — autoras como Simone de Beauvoir criticavam massivamente esse fator. Entretanto, na contemporaneidade o bordado é reivindicado pelas mulheres, que se apropriam da sua própria criatividade e, pela primeira vez na história, passam a ter o bordado como fonte de renda e de reconhecimento.





LUISA LEÃO

Artista têxtil & designer

Doutoranda em Media Artes na Universidade da Beira Interior


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