Os bordados dos bebés da roda
E se não soubessem escrever e precisassem de transmitir uma mensagem que perdurasse no tempo?
⁃ 1793: o bebé Luís Sanches é deixado na Roda com um pedaço de flanela com uma estrela bordada.
⁃ 1870: o bebé Pedro Alexandrino é entregue com, entre outras coisas, um lenço e uma touca - ambas as peças bordadas.
⁃ 1816: um bebé trazia uma fita de seda com letras bordadas; seria o seu nome.
Os bebés deixados na Roda eram entregues com sinais: peças de roupa, bilhetes, fitas de tecido, qualquer coisa que correspondesse ao contra-sinal, que era a metade dos pais e a prova de que aquele bebé pertencia àquela família, no caso de ser possível o reencontro.
Bordava-se com fio de algodão ou seda, habitualmente pequenos símbolos ou letras. As letras eram por vezes bordadas nas várias peças de roupa que o bebé tinha, de forma a facilitar a identificação não só da criança como dos seus pertences.
Importa recordar que na época a maioria da população portuguesa era analfabeta, pelo que era precioso o recurso à comunicação através de símbolos.
Ao longo do século XIX as peças têxteis foram evoluindo, e tanto os sinais bordados como os materiais que lhes serviam de suporte passaram a ser mais coloridos e criativos.
Quando não há vocabulário que ajude, todas as formas de expressão nos podem socorrer:
“Este Menino quando o Batizarem hadem lhe por o Nome Julio Cezar levando de sinal o nome e huns Bentinhos da Senhora do Monte do Carmo e tendo os dittos Bentinhos o coração bordados e três amor perfeitos”
Os bordados não são enfeites vazios. Colmatam o que nos falta em bens e palavras.
Qual é o bordado que te falta dizer?
Fonte: Ler sinais: os sinais dos expostos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (1790-1870) Maria José da Cunha
Porém Reis
Nota final: a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa conserva muitos destes testemunhos e alguns estão disponíveis para consulta no site
Posts recentes
Ver tudoÉ com grande alegria que anunciamos que as inscrições para o nosso tão aguardado encontro de dia 25/05/2024 das 15h às 18h na...
Comments